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Mateus Costa

Emprego na alemanha: como foi (pt-BR)

Clichê: conseguir um emprego em um país diferente não é um processo fácil e por isso resolvi registrar minha experiência e espero que acrescente algo para vocês.

Onde?

Quando chegamos a conclusão que vamos buscar um novo emprego num novo país, a primeira pergunta é: qual lugar? “Olho os lugares mais legais e mando curriculum (CV) para todas as empresas com vaga aberta?” Pode ser uma opção, mas com certeza vai te tomar tempo e um grande estresse pra lidar com tantos processos em aberto ao mesmo tempo.

No meu caso até começou assim mas já ter feito uma viagem para Berlim e ter passado por uma entrevista com 13 horas de diferença de fuso horário (Austrália) foi o suficiente para concluir que os esforços seriam voltados só para uma cidade. Afinal, 13 horas de diferença é muita coisa e até digitalmente teriam desafios para comunicar com meus familiares e amigos. Então tudo aqui adiante vai ser baseado nas minhas interações com empresas de Berlim onde me candidatei para a vaga de desenvolvedor.

Curriculum (CV)

Primeiro de tudo, CV: quanto ao conteúdo, acho que cada um tem sua próprio jeito de descrever suas experiências, mas tente ser objetivo no que geralmente os recrutadores procuram. Aconselho investir um tempo lendo sobre como montar de maneira correta o seu curriculum e também usar exemplos de curriculum de outras pessoas que vocês acham foda. No meu, tento colocar descrições dos projetos que trabalhei e mais especificamente o que fazia nele (o que eu advogava mais ou tinha mais conhecimento) e no final uma visão geral do meu nível de conhecimento com determinada tecnologia. Nível de conhecimento é muito difícil de definir, mas tenho certeza que você vai saber julgar o seu de uma maneira a pelo menos passar a mensagem para o recrutador.

Tenha uma mesma versão em doc/pdf de seu CV. O design não precisa ser bonito, mas estruture de uma maneira que seja fluído para ler. Ou seja, sem muita poluição visual e com um bom espaçamento entre relatos de experiências e descrição de suas habilidades. Eu também criei uma versão online do meu e alguns recrutadores gostaram (acho que fica mais fácil para mandar para o time de desenvolvedores também) e dá mais flexibilidade para organizar o conteúdo também.

CV pronto, e agora onde mandar? Especificamente para Berlim, esses são os recursos que recomendo para procurar as empresas oferecendo vagas:

Disparado, acho que dei mais sorte e curti mais o berlinstartusjobs. Ele é somente um agregador e você mesmo tem que enviar o email com a submissão, mas isso da flexibilidade para usar os meus curriculums ao invés de usar uma dessas outras plataformas onde nem sempre o meu perfil continha todo o conteúdo que realmente demonstrava minhas experiências.

Etapas do processo

Mandei meu curriculum e agora? Nem todas empresas vão responder ao seus emails: paciência e segue a vida. Agora, se seu curriculum encaixou no perfil e eles querem continuar o processo, geralmente a primeira entrevista é basicamente uma conversa pra confirmar suas experiências e também que você não é doido haha. Esse momento serve para praticar sua habilidade de contar a sua história e sua habilidade de ser conciso. Algumas outras empresas adotam os desafios de algoritmos e estrutura de dados (geralmente no hackrank), que geralmente são eliminatórios. Esses são os recursos que recomendo para quem quiser estudar para esse tipo de entrevista.

Depois dessa primeira etapa (seja o desafio ou a conversa), é enviado um projeto para a resolução de algum problema, dessa vez para testar seus conhecimentos prévios e provavelmente onde deve-se utilizar as tecnologias da vaga pretendida. Alguns desafios que fiz foram fáceis em termos de conteúdo, mas geralmente envolviam microservices e concorrência, algo que, para mim que não estava acostumado, foi um pouco difícil nos primeiros.

Os desafios me tomavam em média 3 dias de trabalho (+- 24 horas) para serem terminados, então outra dica que dou é: só entre num processo seletivo se for pra valer mesmo. Não vale a tempo perder seu tempo e do recrutador se não for entrar pra jogar (se é justo ou não ser dessa maneira os processos hoje em dia, é outro assunto).

Depois de enviar a sua resolução tenha muita paciência, geralmente nessa etapa se envolve o time de desenvolvimento e é bem fácil de que você não tenha a resposta tão rápida quanto queira.

Outra coisa que aprendi é que nunca seu código está perfeito. Sempre achamos que estamos entregando o nosso melhor código. Lembre-se que as outras pessoas que estão avaliando possuem uma experiência construída de maneira diferente e que por mais que várias opiniões sobre código limpo, testes ou qualquer outra coisa sejam alinhadas, decisões de design ou detalhes de validação de entradas de uma API baseada numa mera descrição de 10 linhas sobre um problema podem ser interpretadas de maneira diferente e isso pode fazer diferença se você vai receber um sim ou um não.

Caso você receba um não, peça por feedback, pois pode te ajudar no seu próximo desafio. Infelizmente poucas empresas hoje dão feedback. Depois que você é descartado do processo, já não vale a pena para eles investirem tempo nisso, mas você ter investido seu tempo por eles e só receber um “thank you” parece ser comum. Use isso também para filtrar as empresas que você quer entrar. Veja como o recrutador se porta e se comunica contigo durante o processo. Ser bem tratado (ou não ser bem tratado) durante um processo pode dizer muito sobre uma empresa e o ambiente dela.

Caso a resposta for sim, pode ser que role uma terceira etapa com entrevista técnica com alguma pessoa do time de desenvolvimento sobre sua experiência e suas opiniões sobre determinados assuntos. Para a empresa que fui chamado, fizemos uma entrevista de pareamento remoto com uma extensão do desafio que resolvi na etapa anterior do processo. Durante a entrevista também conversamos novamente sobre minhas experiências. Eu gosto desse tipo de entrevista pois você consegue ter contato maior com a profundidade técnica da pessoa usando como base o seu curriculum e também se é uma pessoa que você realmente quer trabalhar no dia-a-dia (postura, conselho sobre o código, capacidade de ouvir e explicar algo).

O SIM e a negociação

Continuando o fluxo, caso você receba um sim novamente e venha alguma cifra junto com ela, faça algum trabalho de campo em sites como stackoverflow e glassdoor para ter uma noção de quanto um desenvolvedor com um perfil similar ao seu ganha na mesma cidade. Some isso ao quanto você acha que suas experiências são únicas e o que você vai somar a empresa e o que ela vai somar a você.

No meu caso eu consegui aumentar significamente o valor da minha proposta justificando todos os gastos que teria com mudança e investimento de um novo lar assim que chegasse em Berlim. Eles estavam um pouco relutantes com a pedida pois não me entrevistaram pessoalmente, mas eu estava confiante do que podia adicionar para empresa. Clichê de novo de linkedin, mas sim, seja firme na sua pedida.

Os gastos que pensei quando estava negociando o meu sálario: contas mensais como aluguel (fora o custo inicial para alugar um apartamento aqui, girando em 3x o valor do aluguel), mercado, internet, telefone, energia elétrica, transporte público, curso de línguas, almoço durante a semana no trabalho. Isso sem considerar lazer e o dinheiro para montar um novo apartamento (móveis e eletrodomésticos) e viagens. Sim, colocamos lazer e viagens na conta também. Eu e minha esposa tinhamos um estilo de vida no Brasil e não queríamos vir para Berlim simplesmente como um investimento e demorar para termos o mesmo estilo de vida que tinhamos no Brasil. Não esqueça de colocar algum valor de ajuda com os gastos de realocação também (passagens e documentação, por exemplo).

Após a negociação a correria da mudança vão criar mais “problemas”, mas que vão ser melhores de resolver.

Com certeza faltou zilhões de detalhes de todas as situações que passei durante os processos, mas acho que isso pelo menos dá uma visão geral como foi. Qualquer dúvida ou esclarecimento, estamos aí!

revisado por Ana Paula =)